sexta-feira, 22 de junho de 2012

Politicamente correto é correto?


Está cada vez mais difícil contar piadas, fazer brincadeiras, encarar as coisas com humor, rir do que tem graça. Qualquer sorrisinho é interpretado como ofensa, falta de respeito e sei lá quantas bobagens a mais.

Isso com o sorriso; as palavras, nem pensar, aliás, nem o pensamento! A quantidade de eufemismos criados obriga quem não quer ofender a ninguém a fazer um curso especial de vocabulário aceitável. As velhas palavras, com seus significados precisos, foram condenadas ao “silêncio obsequioso” e substituídas por artificialismos que soam igual a tapa na orelha. Será que ser “afro-brasileiro” é mais digno do que ser negro ou soa a palhaçada? Pessoalmente, acho a palavra “negro(a)” bonita, forte, e a etnia tem uma beleza com muito mais personalidade do que a dos “euro-brasileiros” (gostou?), além de toda ginga, da diversa e colorida herança cultural, mais vários etecéteras de que os negros devem se orgulhar.

O termo “politicamente correto”  apareceu na China, nos anos 1930, para obrigar a total obediência às ideias de Mao Tsé-tung, proibindo qualquer manifestação fora de suas linhas. Surgiu para cercear a liberdade, e não para respeitar o indivíduo.

           Adotado pelos universitários americanos nos anos 1960, uma época de luta pelos direitos civis das mulheres, dos negros e dos homossexuais, seria uma arma para acabar com as diferenças. Se ajudou? Talvez, mas ainda acho que a campanha “Black is beautiful” foi muitíssimo mais eficaz e bonita, e não precisou de subterfúgios que parecem esconder incapacidades de enfrentar as situações com clareza. São dessa época os termos “afro-americano” e “gay”, que, a rigor, não fazem sentido.

        Ninguém defende o direito de xingar o outro por causa de uma dificuldade mental ou física, por exemplo, muito menos de usar sua orientação sexual ou  etnia para colar rótulos ofensivos, mas não é substituindo-os por eufemismos hipócritas que vamos evitar a ofensa, pois ela está, muito mais, nos atos do que nas palavras. Respeitar os outros é mais do que substituir palavras e evitar sorrisos, até porque estes ajudam a aproximar pessoas e  diminuir diferenças, principalmente as que existem apenas no preconceito.
Donald Malschitzky